NEGRAS AS PALAVRAS QUE LAMBES
(21/07/98) Sem cor abres portas á indiferença Moralista não és, herói muito menos Relampejas de asas bem abertas também Ainda assim pareces murmurar teu ódio Com um som tão vil que se repete Vez após vez, e que soltas ferozmente Sem alma e sem pudor, na espessura que és Atroz, maldita, de feia natureza Sonhas glórias onde tudo consomes Porque tudo queres, porque não sabes ser Falas com tal honra que essa te foge Teus lábios tanta fraude demonstram Teus olhos nem sei de tão enganosos que são Chegas-te a meta final, onde só poderias chegar E passo a passo onde te escondes Á mostra morrerás, pode ser que sim Nas palavras que lambes E que só tu sabes ditar, ainda que mal... A VERDADE MAL RELUZ (14/07/97) A verdade mal reluz de tão cansada Tu que eras glória agora ardes calada Levada á sepultura mas não morta Traída como se traídora fosses De pátria despida, apagada Perpétuas na mentira Triste condição a tua VERME FÉRA (22/12/02) Podre aroma que já só resta Amplidão imunda provida de mentira Que nem passado ou futuro vale Seus pálidos mestres tudo lhe roubaram A luz ja não é, essa foi desfeita A esperança essa caiu Foi-lhe curtada a garganta... De nomes não falo, não é preciso Esses são ilustres, pegajosos Falam com bocas imperas mas sem harmonia Verme fera rastejando em ganância Filhos da puta, sacodem a culpa Como se de pó se trata-se Caminha, caminha, nobre suíno Direito a chama que com alma Eu espero um dia queimar-te, bem fundo Á tua morte e ao teu destino Flores não colherei, não as mereces E até essas te dejegam tal Tens sangue seco, sangue que não corre És gelo e pedra, amante do ódio Teu coração já não é Por isso talvez sejas simplesmente nada Ou resíduo semelhante ÚNICA FORMA DE ÓDIO (23/07/03) Variáveis sessões de sofisticado vício Pugilismo que á vida não dá sentido Abutres sobrevoando a cena Gostam de sentir-se homens e senhores Eu curioso olho os vermes, revelando-lhes Com despreso e colossal revolta O que até aqui era não mais que indiferença Voracidade que incha os olhos E os shonhos reveste com fogo ardente Apto para uma luta aberta Tentando livrar-me da queimadura Queimadura essa que consome hoje e amanhã Excesso, depressão, almas roubadas Inadmissíveis palavras definitivamente putas Fétidas mentes á procura de mais, penetram tudo Eu vejo-te, não silêncioso, Por agora travas a tua batalha, cruel Actor sórdido, miseravelmente fixo Hás-de acabar cinza na tua fria caverna E como enigma do meu ódio A quem eu permito tudo, até o infinito JANELA DO SUFRER
(23/02/12) Não acabaste no fogo Nem a loucura riu Essa farejou de perto Sem paleio algum, assídua Sem medo de te ver consumida Ou até mesmo de novo acariciada Por pobres aborrecidos vermes Sem volta á terra E a fúrias canibais Vazias por agora Finalmente Cuspido jogo de dardos Moldado vício, ás vezes preciso És uma espécie real Representas bem o teu papel Lento, lento, lento Escuro, buraco seco, irrisão Á frente de cada passo Perigosa besta Necessária á sobrevivência? talvez! Mas não á minha, já te conheço bem És mais selvagem que a dor Não por isso menos importante Fiquei de pé muitas noites, contigo Tu e eu, éramos chegados E foi por te escapar ás garras tantas vezes Que hoje te espreito Não quero incomodar-te Quero simplesmente entender-te É tudo o que posso fazer Sim, és espada no peito Até no sono ESCURIDÃO OCA
(09/07/01) Sentado, bêbado, incerto Tão cheio de dúvida Á espera de ti De uma resposta Única em identidade Tu, com as tuas rodas sujas A derrapar na pele A mecânica não resultou Na verdade nunca resulta Sim, a dor ocupou E em tão grande quantidade Pois ninguem mandou retirár-te Nem mesmo eu querendo Pergunto-me porque? Mas a minha intenção é de facto outra Talvez ver-te chegar ao fim Com a tua estranha atitude Mais entregada ao pesadelo que ao brilho Dedicada á psíquica penetração De retorcido ferro e ódio, amargo Temo-te por vezes Sei que tal gostas de saber Por isso aqui fica a notiçia Por isso vou abrir-te as portas E por isso continuo á espera Ocasionalmente sóbrio Nada é impossível A não ser tu estares aqui Contínua fronteira Ressoando de trás para a frente |
CORAÇÃO
(02/10/13) O sítio onde colhemos amor O teu amigo gravado através da luz A doce lembrança que sabe ser Senhor chamado há vida Porque do nada chegou A cada passo as ilusões aspira Terra, tempo e morte Glória também, é génio É pois a vida no silêncio e no grito Desde angústia ao erro Desde o sorriso ao eterno Que mal tem viver A puta é esperta Embriaga cada momento da maneira que quer Não cansa, apenas dita Diz-se dona do mundo Por agora está bom Depois logo se vê Ainda há páginas por escrever Essas existem sempre Abrem, fecham, falam entre si Eu penso nisso Não estou fodido Toda a sombra retorna à sua forma Mesmo que por granndeza Perante olhos presentes É patrão e ladrão Apontando ao caminhante As proezas e as tristezas É assim que funciona Destemido por vezes, sem cheiro Um generoso e um falso Foi assim que o conheci E depois? GRANDES RUÍDOS MODERNOS (23/01/07) Paredes nuas aqui e ali Meninos de sorriso barato Que afinal tudo esquecem, desenganados Defeito que o azar lhes cuspiu Sonho acordado que verte merda Universo gasto por suor sangrento Gritos e mais gritos rasgando a alma... São eles a escuridão e o nada O medo em granito rima Faz-lhes frente, ousando ser Bafo de dúvida como a mais bela impureza Rasto incenso que por ventura Alcança até o gozo Luar e ânsia, dor que parte Mas não desprende Abismo Linha recta, árdua Triste condição na qual nasceram Lágrimas que duram, por fim Mas nunca alcançam Negam tudo Infiéis TEIA Á QUAL JAMAIS VOLTAREI (14/12/02) Mais que prisão aquelas manhãs Talvez até de alma leve Nenhuma luz passaria, apenas saudade Posso falar-vos dessa Sempre em espaço aberto Amo o seu brilho Mas não aquela escuridão Que ela e só ela entendia, tudo Ficava perto e sempre á espreita Um astro importuno sobre o coração Mudo de tanto grito, parte da mágoa Parceiro de pele de ouriço Ergueste a tua tenda e tua voz Noite e dia, eras lua e eras sol e véu Vivemos juntos e sofremos juntos A consolação e eu, mas não em vão Fui desprendendo de ti, pouco a pouco Tempo gravado, e com beleza pouca Sonhei porque de sonhos não foi roubado Eles jazem fortes até á morte Alcançam o que querem, mas não existem Na verdade dão vida Alguma, isso chega Ás vezes não necessitamos de mais Feliz não foi, alcançei alguma felicidade Cortejando aqui e ali Á espera de mãos solitarias Tal como as minhas, sós, á procura Saí confiante, em frente, com alguma arrogância Não tenho medo dessa puta Que com o seu padrão não muito vistoso Faz ver a quem quer, derradeira Guardo alguns bons momentos Desses tempos imfames E que penso em ocasiões raras Bebedeira, música, poesia e drogas Teia á qual jamais voltarei Mas lembrarei sim, com algum alento Alegria vencida, merda até aos joelhos E não so... CÂMARA DE ESPINHOS
(10/08/08) Reprimidos gritos Gritos doentes com alma de palhaço Sempre á luta Parafuso na cabeça dado a lágrimas Á hora do choro Quase em extinção e dividido Desencanto atirado á visão Danificado sangue Ou assim acredito estar Recuando á direção certa Mostrando-se inapto e depois apto Apto e inapto Equanto a lava galga as paredes E as atira ao chão tão facilmente Em repetido seguimento e negligencia aceite Este é o meu modo de te definir Sombra de carne, grade fria Mãe cruz até á última oração Tu vives triste tanto quanto eu Sangras mas não és milagre -Pára |